Fábio Rodrigues, de São Paulo
“Enquanto os homens planejam, Deus ri”, repetem os pessimistas mais empertigados com a habitual desenvoltura de quem, em última análise, está com toda a razão. O futuro não dá a mínima para as nossas mais cuidadosas previsões antes de despejar alguma surpresa – a mais recente crise mundial, não custa nada lembrar, estilhaçou bolas de cristal dos bilionários videntes de Wall Street. Infelizmente, não existe outra saída possível.
Foi pensando nisso que a BiodieselBR decidiu arriscar seus próprios palpites a respeito do que o futuro do setor de biodiesel reserva para o curto e médio prazos. Evidente que não fizemos isso embaralhando cartas ou procurando por desenhos aleatórios nas folhas de chá, mas vasculhando o noticiário especializado e escutando as opiniões de fontes bem informadas no mercado e na academia. Nas próximas páginas, o leitor poderá conhecer algumas de nossas conclusões e predições.
Talvez a aposta mais segura a respeito da movimentação do setor de biodiesel que poderia ser feita hoje é a de que o ciclo de expansão do setor, iniciado com o lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em dezembro de 2004, ainda não atingiu o seu pico. Embora seja possível dizer que o primeiro tempo do jogo esteja bem encaminhado e os primeiros craques dessa partida já estejam começando a despontar, ainda há um bom número de players que estão se aquecendo para entrar em campo.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nada menos do que 12 novas plantas de biodiesel estão com os pedidos de autorização para operação em aberto. Não é tudo. De acordo com o mais recente levantamento sobre a situação das usinas brasileiras de biodiesel elaborado pela BiodieselBR, existem 16 usinas em construção e mais 19 em estágio de planejamento.
Contando a capacidade de produção declarada apenas dos projetos já em construção, há quase 800 milhões de litros por ano a caminho do mercado. Isso sem nem contar as ampliações em unidades produtivas que já se encontram em operação. Algumas já foram ampliadas recentemente e, de acordo com a ANP, existem outras oito na fila para conseguir autorizações para o aumento da capacidade de suas fábricas. Esses números, embora dêem a entender que o setor vive uma robusta onda de crescimento, escondem um ovo de serpente em incubação: o de uma nova alta nos índices de ociosidade industrial do setor.
Há bem pouco tempo a capacidade ociosa da indústria do biodiesel rondou a insalubre marca dos 70%. A situação foi tão complicada que foi preciso convencer o governo federal a antecipar a chegada do B4 para julho (no cronograma oficial do PNPB o novo patamar só seria atingido em 2011) para conseguir desatolar a produção. Assim, o mercado da mistura obrigatória subiu dos 1,40 bilhão (com o B3) para 1,86 bilhão de litros ao ano. É um refresco importante, mas não é uma solução definitiva para o problema da sobrecapacidade que vem assombrando o segmento – no primeiro semestre de 2009 a capacidade produtiva da indústria já superou a marca dos 4 bilhões de litros por ano.
Agora, o último refúgio que ainda resta aos produtores está na chegada do B5 – patamar de mistura mais elevado nas regras atuais do PNPB. Originalmente isso deveria acontecer apenas em 2013, mas o governo já sinalizou que virá no ano que vem. Depois disso, obter novas ampliações de mercado deve ficar muito mais difícil. Embora novas propostas estejam sendo avaliadas no Planalto, como o B20 metropolitano e ampliações de 1% ao ano até o B20, a conclusão é elementar: com um mercado menos elástico e uma capacidade de produção nas nuvens é sábio começar a se preparar para uma concorrência mais dura daqui por diante.